Ingleses vão
usar enxaguante bucal e vitaminas contra sujeira na Baía de Guanabara
Já australianos recomendam uso de chuveiros portáteis após as provas.
Objetivo é 'minimizar danos' durante os Jogos
POR MARCO GRILLO
09/04/2015 5:00
Lixo flutuante toma conta de um trecho
da Baía de Guanabara, cartão-postal que receberá provas de vela durante as
Olimpíadas de 2016 - Marcelo Carnaval / Agência O Globo (02/04/2015)
RIO — Polêmica à vista: a preocupação
com a poluição da Baía de Guanabara levou velejadores britânicos a adotarem
medidas para evitar o risco de doenças provocadas pela contaminação da água. Em
entrevista à “BBC”, o responsável pela equipe de vela, Stephen Park, afirmou
que os atletas estão ingerindo vitaminas para “minimizar os danos da poluição”.
O evento-teste do iatismo será em agosto deste ano.
Os atletas também foram orientados a
carregar embalagens com enxaguante bucal enquanto estiverem treinando ou
competindo na Baía. Segundo a reportagem, o velejador Nick Thompson ficou
doente durante o evento-teste realizado em 2014.
— Estou tomando óleo de peixe para
fortalecer o intestino — disse o atleta. Já entre os dirigentes australianos, o
incômodo se estende para além da Baía. De acordo com o jornal “The Sydney
Morning Herald”, a chefe da delegação do país, Kitty Chiller, se disse
preocupada com os atletas que vão disputar as competições na Praia de
Copacabana — triatlo e maratona aquática — e na Lagoa, que vai receber remo e
canoagem. Uma das alternativas em estudo pela delegação é um chuveiro portátil
para os atletas do triatlo e da maratona aquática usarem assim que saírem do
mar.
EFEITOS DUVIDOSOS
Além de controversa, a decisão dos
ingleses pode não ter efeito prático. O médico Alberto Chebabo, integrante da
Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que a única ação eficaz é a
“vacinação contra hepatite A”.
— A exposição à água contaminada traz
também risco de diarreia, pela presença de bactérias, e de doenças de pele, por
causa da presença de compostos químicos.
Para o médico Celso Ramos, coordenador
da câmara técnica de infectologia do Cremerj, ingerir vitaminas com
antecedência não vai trazer o efeito esperado:
— Nenhum suplemento é capaz de evitar
uma infecção por bactéria — afirma.
A chance de contaminação também é
minimizada pela Confederação Brasileira de Vela. Segundo o secretário-executivo
da entidade, Ricardo Lobato, os procedimentos adotados serão iguais aos
previstos em qualquer competição de alto nível.
— Quem vai às praias de Flamengo e
Botafogo sabe que a água não é a do Caribe, mas, em termos de condições de
regata, a Baía está pronta — afirmou.
O governador Luiz Fernando Pezão já
reconheceu que a Baía não deverá alcançar os 80% de coleta e tratamento de
esgoto prometidos quando o Rio se candidatou. Os barcos que atuavam na coleta
de lixo flutuante estão parados há um mês por falta de pagamento do estado. A
Secretaria estadual do Ambiente estuda uma maneira de criar novas ecobarreiras
para impedir a entrada de detritos na Baía, depois que o instituto gerido pela
família Grael recusou a contratação, sem licitação, para operar as estruturas.
Entre os velejadores brasileiros, a
preocupação com a contaminação é pequena. Sobram, no entanto, críticas à
situação em que a Baía se encontra.
— Velejo há 20 anos e nunca tive nada,
mas já aconteceu muitas vezes de não conseguir treinar por causa do lixo. A
última foi em fevereiro — reclamou Ricardo Winicki, o Bimba.
Bruno Prada, prata em Pequim e bronze
em Londres, em 2012, disse que a situação é “muito ruim” e que “saneamento não
dá voto”.
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